O consenso bipartidário: A chaga aberta da transição política (1974–1979)
Resumo: Entre 1974 e 1979 o sistema político institucional esteve restrito aos partidos ARENA e MDB. Fruto da estratégia política contida no Ato Institucional Nº 2, para o controle do sistema partidário, tais agremiações constituíram o pequeno, mas existente, antro de disputa política, tanto das velhas elites do pré-1964, quanto da formação de novos representantes, em um binômio de aprovação ou contestação das ações da ditadura burgo-militar. A partir do estudo de fontes produzidas pelo MDB, em particular, como cartilhas e discursos em reuniões internas, fez-se uma análise de discurso com o objetivo de indicar como foi formado um consenso bipartidário entre os representantes permitidos pela ditadura burgo-militar que levou à “lenta, gradual e segura” passagem do poder de Estado às mãos dos civis, viga mestra dos acordos que renovaram a dominação de classe no Brasil, dando origem à Nova República. Tanto o anticomunismo, quanto a recusa ao “revanchismo” na abertura política foram denotados como condições sine qua non para a saída dos militares dos holofotes do poder e a manutenção de sua permanente tutela sobre o Estado brasileiro, a qual é sentida até os dias atuais.
Palavras-chave: Democracia. MDB. ARENA. Anticomunismo. Revanchismo.
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