Mulheres de cor e suas posses de escravizados: orquestrando múltiplas relações familiares
Resumo: O artigo examina as complexas relações que caracterizam domicílios com escravizados e chefiados por mulheres de ascendência africana em Minas Gerais do final do século XVIII. Entre os padrões que emergem são o constante estímulo à formação de famílias escravas, o engendramento de famílias mais amplas que entrelaçam os livres, libertos e escravizados residentes no lar, o compadrio visando vincular proprietária e familiares imediatas com seus cativos e, por fim, a concessão criteriosa de alforria que contribuem à unificação e continuidade da família ampla esboçada acima.
Palavras-chave: Donas de escravizados. Gerenciamento do lar. Formação de famílias. Compadrio e alforria. Paternalismo brasileiro.
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